segunda-feira, 24 de maio de 2010

Esse que a Inês vai colocar no jornal. =S

Numa tarde de domingo, dia de toda família se reunir, eu estava andando pela rua quando encontrei uma garotinha sentada num canto, sozinha e chorando. A garotinha era bem pequena para sua idade e magra demais, cabelos negros, pele amarela fisionomia um tanto quanto triste, e não devia ter mais de sete anos.

Perguntei-lhe o que havia ocorrido, por que ela estava sozinha na rua e onde estava sua mãe. Sem dizer nada, ela me olhou com os olhinhos cor de jabuticaba cheios de lágrimas e começou a soluçar. Esperei que ela se acalmasse e pudesse conversar comigo.

A menina olhava para todos os lados se certificando de que ninguém nos observava. Depois de tudo olhar, disse-me quase sussurrando que estava muito triste porque tinham uns ladrões de tempo por aí. Eu não entendi o que a menina queria dizer com isso e, percebendo meu espanto, ela me disse que uns homens muito malvados roubavam o tempo de sua mãe, o tempo que sua mãe tinha para ela, disse ainda que sua mãe só trabalhava e que quanto mais cedo saía de casa, menos tempo sobrava para ficar com ela.

A mãe da menina, jovem e solteira, era caixa de uma rede grande de supermercados, trabalhava o dia inteiro. Não almoçava em casa com a filha, chegava à noite sempre muito cansada e ainda tinha que estudar. Ao voltar da escola, tinha que arrumar a casa e cozinhar para o dia seguinte e, por chegar bem tarde, a garotinha já estava dormindo e elas quase não conversavam. A menininha ficava na escola o dia inteiro e ficava na casa de sua avó ao voltar da escola.

Fiquei muito triste com o relato da menina. Na sua sinceridade e inocência de criança, ela disse que não entendi como eles roubavam o tempo das pessoas, fazendo-as ficarem cada vez menos presentes em casa; elas faziam seu trabalho sempre com mais pressa e corriam tanto com tudo, mas, mesmo assim, não tinham tempo para nada. Ela me perguntou como alguém podia ser tão ruim a ponto de roubar desse modo as pessoas, só para fazê-las não terem tempo nem para a família.

Tomada pela emoção, não me contive e comecei a chorar. Só depois de ouvir isso tudo, percebi como as crianças viam a agitação da vida moderna.

Nenhum comentário:

Postar um comentário