quinta-feira, 28 de abril de 2011

Novelas da vida real (Para Paloma Matos)



Nós nascemos e crescemos numa cidadezinha do interior de MG. Lá já foi movimentado, já chegou a 150 mil pessoas, mas o desenvolvimento ao redor fez da cidade uma área de repulsão.
Estudamos e crescemos juntas. Íamos as noites de sábado para o único shopping existente na cidade. já com nossos 16 anos, fizemos nossas escolhas de profissão. Mudaria as nossas vidas. Apesar de nossas ideias, idades e educação bastante parecidas, cada uma seguiria um caminho.
Eu sempre gostei muito de ler, lia na média de 60 livros por ano, criei um jornal na época de Ensino Médio, fui articulista de sites e blogs. Ela, por outro lado, sempre comprou revistas adolescentes, se preocupou com aparência, seguia tendências da moda e decoração, fazia murais no seu Ensino Médio, criava verdadeiras obras de arte no contato com objetos como tesouras, réguas, tintas (principalmente).
No nosso terceiro ano colegial, decidimos sair da cidade e ir a um lugar maior ( se não melhor, com mais oportunidades para quem estava formando). Nós duas, juntas, passamos na melhor faculdade de MG e de SP. Fomos para SP.
Na época era ainda mais difícil viver numa cidade grande, mais ainda para duas jovens do interior. E, mais ainda, de jornalismo (já não exigindo diploma do curso). Arquitetura era mais fácil, menos concorrido e mais rentável.
Como já era de ser esperar e como já dito, fiz jornalismo. Com todas as engenharias em alta e potencial para tal, o amor me levou às letras. Ela, eu ainda não sei o que levou a escolher arquitetura, tinha um enorme talento para artes de qualquer tipo. Eu até gosto de matemática, mas tive e tenho bloqueios enormes com Física, então , a respeito.
Eu me formei em cinco anos, mas já fazia parte de um bom jornal desde meu 6° período de faculdade. Ela levou quatro anos para se formar, mas também já tinha emprego fixo.
Hoje ela trabalha numa empresa e eu numa redação de jornal, como sempre sonhamos. Nós nunca vamos ter um trabalho por conta própria, já sabíamos disso e não nos importamos.
Nos víamos somente às noites e aos domingos. Sábado a noite era a melhor parte da semana. Como já diria Djavan, "todo mundo espera alguma coisa de um sábado a noite". Voltávamos para a cidade, da qual saímos, sempre que podíamos, e não eram muitas as vezes.
O tempo corria junto com nossa rotina e fomos nos esquecendo de nossos objetivos. Quando saímos de Minas, fomos em busca de um lugar. Sete anos havia se passado e nós não o encontramos, ou não o percebemos. Não sabíamos qual era tal lugar e onde ficava, mas reconhecíamos sua existência e o conheceríamos.
Mais dois anos voaram e nossa procura não tinha fim. Um sábado a tarde, conseguimos folga e resolvemos ir ao Museu da Língua Portuguesa e ao da Arte Contemporânea (para agradar ambas as partes).
O metrô nos deixou há dez minutos do primeiro museu; caminhamos. Eu passava por esse caminho 3 vezes por semana e ela umas 4, ida e volta; nunca havíamos notado nada.
Exatamente entre a Estação do metrô e o Museu da Língua Portuguesa nós o vimos. Lá estava nosso lugar.